Junho é considerado o mês do Orgulho (LGBTQIA+) e a equidade de gênero, a democracia e liberdade são assuntos cada vez mais importantes e que vêm sendo implementados nas empresas. A Gupy, empresa líder em tecnologia para RH, analisou as vagas publicadas na plataforma entre janeiro e começo de junho, 10% do total das vagas foram “inclusivas” (exclusivas para Diversidade & Inclusão), e destes 10%, 37,5% foram destinadas exclusivamente para profissionais LGBTQIA+.
A empresa também avaliou que o número de vagas publicadas no primeiro semestre de 2021 para especialistas em diversidade e inclusão cresceu 560%. Ou seja, os dados mostram que as empresas estão mais preocupadas com este valor e estão contratando especialistas sobre o assunto, seja para aplicar a diversidade efetivamente ou para criar setores e comitês de diversidade.
Segundo Mariana Dias, CEO da Gupy, esse dado comprova que as empresas estão começando a colocar em prática o discurso acerca do tema e afirma que as companhias possuem um papel fundamental para a inclusão desses grupos. “As empresas têm um papel fundamental na sociedade e também na geração de oportunidades. Temos visto cada vez mais companhias se comprometendo e criando políticas internas direcionadas para esse grupo, o que é fundamental para a equidade de valor das pessoas”, avalia.
Ter pessoas da comunidade LGBTQIA+ em cargos de liderança também é algo relevante e que prova a busca por uma maior inclusão. Camila Krauss, 41, é supervisora Comercial da Reserva. Em 2008, ingressou na empresa como vendedora e ela conta que nesta época nunca tinha trabalhado com varejo, mas logo nos primeiros dois meses da experiência, se destacou. Após isso, ela foi convidada pelo CEO da marca, Rony Meisler, para uma conversa. “Ele quis saber minha história e eu contei que tinha um relacionamento com uma mulher e meus objetivos profissionais. Desde o início da minha trajetória aqui eu pude ser quem eu sou verdadeiramente”.
Ao longo desses treze anos, ela foi promovida diversas vezes e hoje é supervisora comercial responsável pelos estados da Bahia e de São Paulo e, por se destacar, foi convidada para se tornar uma sócia notável da empresa. Para ela ser uma supervisora, liderando um time de 100 pessoas, e poder falar abertamente sobre sua orientação sexual e da sua família é um sinônimo de força e inspiração. “Em 2019, eu e minha esposa fizemos um tratamento de fertilização e tivemos o nosso neném. A empresa comemorou e se emocionou junto comigo”. Ela conta que, na época, tirou 45 dias de licença para curtir os primeiros momentos do bebê ao lado da sua esposa, que foi a responsável por gestar.
Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que haja de fato a inclusão de todas as pessoas no mercado de trabalho. Igor de Barros, 41, é gerente de estilo da Reserva. Há seis anos na empresa, ele é o responsável pela direção criativa da marca, coordenando o time de estilo e inovação. Igor destaca que trabalha num time diverso, barulhento e que provoca a paisagem e neutraliza ações preconceituosas. Ele enxerga que seu papel como parte da comunidade LGBTQIA+ em um cargo de liderança é importante para inspirar outras pessoas e para ter negócios mais diversos. Mas destaca que, apesar de enxergar essa mudança acontecendo no mercado, ainda é preciso melhorar as ações para que mais pessoas alcancem posições estratégicas e de liderança dentro das companhias.
Guilherme Dias, CMPO na Gupy, destaca a importância de criar um ambiente confortável e acolhedor para todos. “Quando nós fundamos a Gupy, eu não falava abertamente sobre minha orientação sexual com o time. Me lembro de participar de uma palestra com a Head de Cultura Global do Google em que ela afirmou que a cultura corporativa é construída pelos fundadores somente até os primeiros 15 funcionários e, a partir daí, a transformação da cultura está muito mais na mão das outras pessoas do que dos fundadores em si. Aquilo mexeu comigo na época e me dei conta que, para construir uma cultura que valorizasse a diversidade, inclusão e respeito às diferenças, eu deveria começar dando o exemplo ao falar sobre a minha própria vida como LGBTQIA+, com naturalidade e transparência, para que todo o time também se sentissem à vontade para serem quem são. Hoje, eu faço questão de falar sobre isso até mesmo no onboarding de novos colaboradores para evidenciar que não existe tabu nesse assunto dentro de casa. Olhando para nossa história, tenho certeza que foram nossas diferenças que nos trouxeram até onde estamos hoje.”
A sociedade ainda é muito preconceituosa. Nyldo Moreira, 30, que hoje ocupa o cargo de Head de Atendimento na Fala Criativa, explica que teve que enfrentar diversas situações de descriminação ao longo de sua trajetória. “Quando eu iniciei minha carreira, tinha bastante receio em dizer que eu era gay, porque as pessoas olhavam diferente. Eu cheguei a ouvir para tomar cuidado com o meu comportamento, simplesmente por ser gay. Na escola, por exemplo, a mãe da minha melhor amiga foi à diretoria pedir que eu me afastasse da filha dela. E na vida profissional também é assim, o preconceito existe em todos os atos da sociedade”.
Apesar disso, hoje ele afirma que encontrou uma posição no mercado onde se sente livre e estimulado para ser quem é. “Eu tenho a oportunidade de liderar num espaço que dificilmente nos possibilita essa abertura, é como se o gay não pagasse contas, não pudesse assumir cargos executivos, não pudesse crescer. E eu quero ser exemplo como profissional e como um profissional homossexual, pois eu quero engajar pessoas como eu. Eu sou extremamente respeitado aqui e ouvido”, finaliza.
Empresas criam ações para estimular diversidade e inclusão nos times
A Positiv.a, empresa de produtos de limpeza e autocuidado veganos, hipoalergênicos, feitos com base vegetal e biodegradável, é um exemplo de empresa que possui um comitê de Diversidade & Inclusão. A equipe, formada por funcionários da empresa de diferentes áreas, é responsável por realizar pesquisas de percepção de diversidade, compartilhar conteúdo educativo, conduzir oficinas e treinamentos, bem como criar um acesso de escuta anônima para colaboradores. Em sua política de Diversidade & Inclusão a empresa traz dados sobre a composição do time e destaca as ações para aumentar o nível de diversidade. Entre as iniciativas estão: cargos abertos exclusivamente para minorias; definição de metas, prazos e indicadores sobre diversidade para todos os times e gestores; investimento na contratação e formação de lideranças pertencentes a minorias e garantia de um mínimo de entrevistas para cada vaga em aberto preenchidas por minorias.
O GetNinjas também inaugurou seu Comitê de Diversidade em fevereiro deste ano e conta com a participação de 43 colaboradores. O comitê vem implementando uma série de iniciativas para debater sobre o tema com o intuito de tornar o GetNinjas ainda mais diverso e inclusivo. Entre as ações já implementadas pelo comitê, estão: a contratação de uma ferramenta para denúncia anônima, chamada Click Compliance, caso algum colaborador sofra algum tipo de preconceito ou assédio; parceria com a Mais Diversidade, consultoria focada em políticas de diversidade no ambiente de trabalho, para promover treinamentos voltados para os colaboradores e a liderança; e além disso, este mês haverá uma bate-papo com Vitor Martins, especialista em diversidade no Nubank, para falar sobre LGBTfobia para o time.
“Todas as decisões são pensadas com todo o cuidado, sempre ouvindo as experiências dos colaboradores no home office, para entender o que, de fato, faz sentido para eles e para poder proporcionar oportunidades, bem-estar e acolhimento, ainda mais pelo atual momento que vivemos e que é tão necessário esse apoio. Além disso, é por meio dessas ações que colocamos em prática a nossa cultura como empresa”, comenta Andréia Girardini, diretora de Pessoas e Cultura no GetNinjas. Atualmente, 25% das pessoas que trabalham na empresa se identificam como LGBTQIA+.