O Museu da Diversidade Sexual (MDS), instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibirá na próxima sexta-feira (4), às 16h, no Centro Universitário Maria Antônia (USP), em São Paulo, o documentário Divinas Divas (2017), dirigido por Leandra Leal, seguido de roda de conversa com convidados. O documentário aborda a trajetória de oito estrelas da primeira geração de artistas travestis no Brasil dos anos 1960, as divinas divas Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujika de Holliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios.
A obra retrata o reencontro das artistas para a montagem de um espetáculo, trazendo para a cena as histórias e memórias de uma geração que revolucionou o comportamento sexual e desafiou a moral de uma época. Após a exibição do documentário, acontecerá uma roda de conversa com a participação de estrelas dessa história e importantes nomes do movimento LGBTQIA+. A exibição do documentário ocorre paralelamente à exposição “Duo Drag”, no Museu da Diversidade Sexual, localizado na Estação República do Metrô, piso Mezanino.
Para Léo Birche, curador e produtor da exposição Duo Drag, o documentário “Divinas Divas” é um registro muito importante de artistas que foram – e são – fundamentais no Rio de Janeiro e irradiaram isso por todo o Brasil, influenciando muito a cidade de São Paulo também. “Elas todas foram essenciais para trazer um olhar para as questões de gênero de uma maneira artística, que é o que as Drag Queens fazem, e a ideia do Duo Drag é exatamente essa: retratar as Drags de diversos momentos históricos, desde as primeiras integrantes do movimento até as que continuam essa luta na contemporaneidade”, destaca Birche.
Após a exibição do documentário, acontecerá uma roda de conversa com a presença de Divina Valéria e Eloína dos Leopardos, artistas participantes do Divinas Divas, Daffyni Soarez e Bonnie J, jovens Drags retratadas na exposição Duo Drag, além de Natara Ney e do próprio Léo Birche. “É a oportunidade de conhecer as dificuldades passadas, as que ainda existem e as novas que surgiram. Um momento muito rico e marcante para a comunidade LGBTQIA+ e que dará visibilidade e a chance de ouvir os sonhos, as histórias e as ideias das artistas Drags, servindo de inspiração, tanto das Drags do Divinas Divas, quanto do Duo Drag, sobre uma força de querer fazer e de fazer, poder performar aquilo que elas desejam”, conclui Birche.
Conheça os participantes da roda de conversa:
Divina Valéria é uma das pioneiras do movimento LGBTQIA+ no Brasil, musa retratada por Di Cavalcanti (1897-1976) e que brilhou em variados espetáculos pela Europa nas décadas de 1970 e 1980. Surgiu no cenário artístico em 1964, no espetáculo Les Girls, ao lado de nomes como Rogéria (1943-2017). No início dos anos 70, foi para Paris, onde ficou radicada, e se apresentou por toda a Europa. Divina foi lembrada também no documentário Divinas Divas, lançado em 2017, que marcou a estreia de Leandra Leal como diretora. Sua trajetória foi contada, inclusive, na biografia Divina Valéria, escrita por Alberto Camarero e Alberto de Oliveira, conhecidos como Os Albertos, lançada em 2021, pela Editora Desacato.
Júlia Paiva Soares da Silva (Daffyni Soarez) é uma mulher transexual nascida e criada em São Paulo, capital. Já Daffyni Soarez, sua Drag Queen, surgiu em 2019, em uma Parada do Orgulho LGBTQIA+, com o intuito de ser uma diversão. Tendo uma personalidade bem forte, Júlia a considera o seu melhor lado, mais ousado, lúdico, fashion e engraçado. Enfim, um lado de fantasia e muito brilho. Daffyni Soarez
Eloína dos Leopardos foi a primeira rainha de bateria do Carnaval a surgir sambando à frente dos ritmistas da Beija-Flor e inaugurando a função célebre na Marquês de Sapucaí, que depois virou sonho de consumo das famosas. Também brilhou na noite artística do Rio, com sua inesquecível “Noite dos Leopardos”. Comandou um movimentado salão de beleza na zona sul carioca, como bem lembra Aguinaldo Silva em seu recente livro Vendem-se Corações Despedaçados. Depois de tudo isso, mudou-se de mala e cuia para São Paulo, onde tornou-se estrela da noite e da gastronomia paulistana e atualmente é a grande diva do Bar da Dona Onça, no Copan. Pioneira na representação trans e travesti nas artes, Eloína, estrela do filme Divinas Divas, de Leandra Leal, foi uma das personalidades trans que receberam o Prêmio Claudia Wonder, em 2021, no encerramento da 9ª edição da SP TransVisão, a semana de visibilidade trans realizada pela Adaap e SP Escola de Teatro.
Jean Cavalcanti (Bonnie J) nasceu em São Paulo, no dia 23 de abril de 1992. Desde seu primeiro emprego em um salão de beleza, se apaixonou pelo mundo da maquiagem e, em 2019, deu vida à Drag Queen Bonnie J na parada LGBTQIA+ de São Paulo. Hoje em dia, tem como principal ferramenta para divulgação de sua arte a rede Instagram, onde vem sendo notada na cena Queer de São Paulo, sendo inclusive chamada para participar de um livro sobre a arte Drag no Brasil. É uma Fashion Queen que está atenta às últimas tendências de moda e make, mas que adora a cultura dos anos 2000 e que procura misturar um pouco dos dois em sua imagem.
Léo Birche é produtor cultural, ator, diretor e professor. Curador e produtor da exposição Duo Drag. Doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestre em Educação pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, especialista em Direção Teatral pela Escola Superior de Artes Célia Helena. Atua com processos de criação em artes da cena e em propostas formativas em teatro, produção cultural e curadoria.
Natara Ney é formada em jornalismo pela PUC-PE. Concluiu o curso de realização audiovisual do Centro Afrocarioca de Cinema. Participou da Flup em duas edições, em ambas teve contos publicados nas coletâneas Carolinas e Cartas para Esperança. Associada da APAN desde 2019. Montadora e roteirista como mais de 20 longas-metragens, 5 séries para tv e diversos videoclipes. Assinou o roteiro dos documentários: Mistério do Samba, A Última Abolição, Além Hamlet, Divinas Divas e Cafi. Estreia na direção de longas-metragens com os filmes – Cafi, Espero que Esta te Encontre e que estejas bem e Elza Infinita, este último premiado no New York Film Festival.
O Museu da Diversidade Sexual, equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, localizado na Estação República do Metrô, piso Mezanino, também oferece visitas guiadas pelo educativo da instituição. Os agendamentos devem ser feitos no site: Museu da Diversidade Sexual.
Serviço
Sessão Divinas Divas e Roda de Conversa
Quando: 4 de novembro, às 16h
Onde: Centro Universitário Maria Antônia (Rua Maria Antônia 294, São Paulo)
Entrada gratuita