As eleições municipais de 2020 revelaram uma busca por mudança na política, manifestada com uma maior representatividade nas urnas. Essa transformação pode ser observada em todo o Brasil, em que lideranças LGBTI+ buscaram, mais do que nunca, espaço na política para que seus discursos possam ser ouvidos.
Essa mudança foi vista já na pré-candidatura, quando ao menos 435 candidatos LGBTI+ em todo o Brasil manifestaram o interesse de participar da disputa eleitoral, segundo o levantamento da Aliança Nacional LGBTI+. Quando comparamos com as eleições de 2016, isso representa um aumento de 143% no número de candidatos do grupo.
A maior participação deve-se ao fato que, nos últimos anos, houve o fortalecimento de um fenômeno internacional buscando uma maior conscientização e engajamento político, principalmente pelas gerações mais jovens (Millennials e Geração Z). Isso ocorre junto a diminuição de desigualdades e acesso a mecanismos políticos como ambientes universitários, coletivos e afins.
Além disso, o crescimento da polarização política no Brasil durante as eleições de 2018 contribuiu para esse resultado. O cenário na época fez com que a população LGBTI+ tivesse medo de perder seus direitos já conquistados. Polarização essa que culminou na morte da Marielle Franco, vereadora LGBTI+, negra e periférica. Situação trágica que motivou tantas outras “Marielles” a se envolverem com a política e em lutas que a vereadora apoiava.
Esse crescente interesse foi manifestado nas urnas, com 90 LGBTI+ eleitos neste ano, segundo a VoteLGBT. Um avanço de extrema relevância, já que a pauta LGBTI+ não era destaque no Legislativo — hoje, as principais conquistas da comunidade costumam vir pelo Judiciário. Contudo, votar em candidatos LGBTI+ não é o bastante. É preciso que os candidatos eleitos lutem por políticas públicas que defendam as minorias. Infelizmente, apesar de fazerem parte da comunidade, muitos não defendem causas de interesse LGBTI+, muitas vezes até as repudiando. Outro fator importante para analisar é que, apesar do 90 eleitos, ainda tivemos poucos candidatos LGBTI+ foram eleitos para a Prefeitura no primeiro turno, de 15 candidatos que concorreram ao cargo.
Portanto, os vereadores escolhidos precisam propor projetos de lei que ajudem LGBTIs+, com temas relevantes para nós, como o uso do nome social nos órgãos do município e a proibição e penalização de funcionários públicos que sejam LGBTIfóbicos. Além disso, precisam conhecer os dados importantes para a comunidade e, dessa forma, entenderam onde devem agir para tomar medidas.
Um exemplo disso é buscar políticas públicas que defendam ações, como educação mais inclusiva, já que 60% dos estudantes LGBTI+ se sentem inseguros/as, 73% já foram agredidos/as verbalmente e 36% foram agredidos/as fisicamente na escola. Outro exemplo importante é lutar por uma saúde mais integral, em que se tenha atendimento humanizado e acolhedor, além da aplicação do Plano Nacional de Saúde Integral LGBTI+. Assim como buscar serviços de segurança qualificados a atender LGBTIs e dar a devida atenção a crimes de LGBTIfobia.
Apesar do avanço obtido nessas eleições, ainda não é o suficiente. É necessário ter ainda mais representatividade na política, lembrando que somos 10% da população e apenas 0,1% dos candidatos eram LGBTI+. Além disso, com o avanço também cresce o confronto político, que deve ficar mais acirrado e com mais debates. Isso porque, neste ano, o Brasil também teve o maior índice de candidatos com títulos religiosos da história, em que que foram mais de 8,7 mil candidatos e 469 eleitos. Candidatos que têm o histórico de não respeitar a laicidade do Estado e geralmente vão contra a aceitação da comunidade LGBTI+. Inclusive, sendo a favor coisas como a dita ‘cura gay’, prática repudiada pelo Conselho Federal de Psicologia.
Já conquistamos muitas coisas, porém nossa luta é constante. Precisamos fazer nossa parte como eleitores e acompanhar os candidatos, para entender o que está sendo feito na política a respeito da defesa da nossa comunidade. Também é preciso levar nossa luta para o dia a dia, atuando para que não haja exclusão em outras esferas.
O nosso papel de eleitor segue importante. As práticas que a Nohs Somos trouxe em materiais educativos lançados para as eleições deste ano permanecem relevantes. Esses conteúdos têm como objetivo de conscientizar sobre a escolha dos próximos representantes às prefeituras e câmaras municipais. Dentre eles está o “Guia de Bolso das Eleições para LGBTI+ Cansades”, criado com base no Programa Vote com Orgulho, da Aliança Nacional LGBTI+, que podem ser acessados gratuitamente.
Sobre a Nohs Somos
A Nohs Somos é uma startup de impacto social, com sede em Florianópolis (SC), que se dedica a trazer bem-estar para a comunidade LGBTI+ e auxilia as empresas a melhorarem sua gestão inclusiva com soluções em diversidade & inclusão. Em 2020, lançaram a plataforma web onde a principal funcionalidade é um MAPA LGBTI+ destacando os locais amigáveis curados pelos usuários. Essa métrica de impacto (avaliação de estabelecimentos e organizações) foi cocriada em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina e atualmente está presente em 16 cidades do Brasil. A perspectiva da Nohs Somos é lançar a solução mobile com novos serviços, como fórum aberto de criação de conteúdo e destaque para empresas diversas e inclusivas, em novembro de 2021. A startup de tecnologia social é acelerada pelo Instituto Nexxera e foi selecionada para participar do InovAtiva Brasil e Inovativa Brasil de Impacto, maiores programa de aceleração de startups da América Latina. Também faz parte da aceleração do Instituto Legado e Impact Hub Floripa.