Diferente do que se vê em programas de tevê ou reality shows na internet, a cultura Drag é muito mais ampla. É um movimento que vem crescendo e, de natureza plural e inclusiva, atrai pessoas de todos os gêneros e expressões artísticas. Antes restrita a performances em casas noturnas e eventos particulares, hoje a atuação destas e destes profissionais se faz presente em vários espaços. Conquistam fãs e seguidores nas plataformas virtuais, estão em salas de aula, criam, dirigem e atuam em espetáculos artísticos e empreendem nos competitivos mercados da moda, beleza e de venda de produtos.
As vertentes que estas e estes artistas exploram não para no homem gay que se monta [de Drag], e ultrapassa a Realness (representação pura de feminilidade). De diferentes idades, homens e mulheres, cis ou trans – gays ou héteros, ampliam a narrativa Drag em King, este que dialoga com a performatividade masculina. Elas e eles expressam sua arte inspiradas(os) em monstros, bichos, na natureza, na mitologia e no cosplay, para citar alguns.
A cultura Drag é de natureza questionadora, inclusiva, política e social. Banha-se de humor e drama, para atravessar assuntos contemporâneos acerca da fluidez de gênero, liberdade de expressão, padronização estética e inclusão social.
Larissa Hollywood
Para a brasiliense Larissa Hollywood, Drag Queen há 10 anos e idealizadora do Hollywood Drag Show, a cultura Drag representa “o gênero identitário em performance e exprime as transmutações que o corpo e as múltiplas identidades permitem”. Diz ainda que “é um mergulho no profundo, no intenso e na arte da interação em público”. No Distrito Federal, assim como em outras regiões, “esta cena cultural ainda enfrenta difíceis realidades e profunda resistência sócio inclusiva”, aponta Larissa, alter ego de Gustavo Letruta, diretor artístico e produtor cultural. Por aqui, a maior parte das Drags é moradora das regiões administrativas periféricas ao centro da Capital e “a muitas não é dada a oportunidades de ingressar no mercado artístico”, ressalta.
O Hollywood Drag Show, que chega à sua segunda edição e com 19 participantes do Riacho Fundo I, Samambaia, Cruzeiro, Brazlândia, Taguatinga, Itapoã, Estrutural, Goiânia e São Paulo, tem caráter competitivo, mas nasceu para ser um espaço de encontro e de troca entre criativos fazedores de arte Drag. Para isso, conta com quatro workshops e três bate-papos, com foco na capacitação. Assista ao teaser aqui e à uma retrospectiva da primeira edição aqui. E será ao longo destes sete momentos, que processos criativos serão compartilhados abrindo espaços para o reconhecimento identitário. Perguntado o que se busca? “Que nosso Drag Show, seja um ambiente de afetividade, acolhimento e amorosidade, diferente dos meramente competitivos”, ressalta Larissa. Perfil, que se soma a outras iniciativas locais como Cabaré Drag, Distrito Drag e House of Meyers.
A temática escolhida para esta edição do Hollywood Drag Show é “Magia e Mitologia” e tem como o objetivo investigar o universo dos sonhos e, através deles, resgatar os desejos. “Enfrentarmos um período de perda de esperança e de quebra de planos futuros e vontades”, avalia Larissa. Com essa provocação, as participantes brincam de ter superpoderes, trazem a ancestralidade e contam a trajetória LGBT. Discutem a Drag enquanto Mito e incorporam personagens eternas como fadas, deusas, bruxas ou lendas do folclore brasileiro. Drag [Queen ou King], nasce ao ser batizada/o por outra/o mais experiente, que a/o ‘monta’ [veste, penteia e maquia]. Sua formação artística demanda dedicação e atravessa diferentes áreas que passam pelo canto, dança, interpretação, exercícios de improviso, maquiagem entre outras. A ‘montação’ requer criatividade, paixão e tem custos altos com roupas, perucas e acessórios. Contornar este desafio, em especial para as de pouco poder aquisitivo, as faz recorrer a parcerias, familiares, amigos e amigas. “A gente costura, aperta, usa cola quente e grampos para transformar vestidos, sapatos e perucas simples e extravagantes figurinos”, conta Letruta.
Construir vínculos afetivos e de amizade, bem como contribuir para a formação profissional e autoestima, estão no horizonte traçado pelo Hollywood Drag Show. Horizonte que vislumbra construir “uma rede forte de Drags com eventos de formação e capacitação”, avisa Larissa. “Nosso desejo passa ainda por montar espetáculos e construir eventos LGBTQIAP+ onde todo mundo possa brincar a performance. Um sonho? “Criar uma Escola de Drags”, demarca o performer. O projeto teve início sábado, dia 6 de fevereiro e segue até 27 [do mesmo mês], noite da mostra competitiva, com entrega da premiação e shows. Os Workshops serão realizados via aplicativo e somente para as participantes, já os bate-papos, abertos a todes, serão via Instagram (@cabaredrag). A noite de encerramento (27/02), será transmitida, a partir das 19h, através do canal no YouTube. A comemoração, com restrição de público, ocorrerá no Velvet (CLN 102).
Confira a programação:
Dia 06/02: Workshop – Voz e performance: Não é nada disso que você está pensando
Ministrado pela artista brasiliense Tonhão Nunes. A atividade de canto, cujo objetivo é trabalhar com a voz interior de cada integrante. A partir do compartilhar de histórias e vivências pessoais, saber dar voz para performance in drag. Tonhão Nunes, 24 anos, é de Valparaíso de Goiás. Cantora, atriz e performer, desde 2010 passeia pelo Teatro Musical.
Dia 08/02: Bate-papo – T(r)etas: Há algo de enrustido no reino LGBTQIA+
Mediado por Nine. Debater pontos ainda não tão compreendidos pela sociedade, com um recorte específico à comunidade LGTQIAP+. Mesmo com todo avanço nos estudos de gênero encontram-se alguns reforços negativos a respeito do tema. Nesse bate-papo, o intuito é de crescimento e aprendizado. Nine, intérprete do Drag King Julio Stalin Molotov, é pessoa não binárie, gênere neutro, crescide no Gama, (DF). É roteirista, performer e arte educadore, atua profissionalmente em teatro e audiovisual desde 2006. Em 2020 estreou no YouTube o “Drag Kings A Live”, programa de comédia estrelado por figuras da performance queer.
Dia 09/02: Bate-papo – A: A influência da Drag na visão do Ser
Mediado por Medu Zaa. Uma conversa sobre como a construção da persona Drag influência o artista na sua autoestima, na sua compreensão do ser e na maneira como é feita a leitura do mundo. Medu Zaa é Drag atuante há um ano em Brasília e residente da WoW Project. É fruto de um desejo de levar ao público amor através da arte.
Dia 10/02: Workshop – Impacto das montadas: Performatividades Drag Queen
Oficina de livre performatividade Drag Queen. Trabalhar as múltiplas formas de performar Drag presente em diversos estilos de montação. A oficina abordará técnicas de presença cênica, dublagem, voz e elementos da comédia. Ministrado por Mackaylla Maria, Drag Queen de Vinícius Santana, atua há dez anos no teatro, cinema, performance e educação. Formou-se em Educação Artística na Universidade de Brasília, venceu o concurso Rainha da Virada Cultural, abriu show de Latrice Royale, estrela de RuPaul’s Drag Race, e protagonizou filmes financiados pelo Uol, Canal Futura e Itaú Cultural.
Dia 11/02: Workshop – T de Tesão: Coreografia e Sensualidade
Oficina de corpo e dança para experimentar a sensualidade e monstruosidade de cada pessoa. Encontrar como o corpo se expressa e a forma como reverbera. Ministrado por Larissa Hollywood, Drag Queen, apresentadora e coreógrafa, atua profissionalmente no DF desde seu surgimento, em 2010. É diretora do bloco Sereias Tropicanas, Drag-Apresentadora e integrante da direção do Bloco do Amor. Apresentou eventos como Reveillon de Brasília, Bienal do Livro e Festival Curta Brasília.
Dia 12/02: Bate-papo: Produção cultural e arte Drag
Mediado por Ruth Venceremos, vai falar de como os/as artistas transformistas estão cada vez mais inseridos no ramo da produção cultural e a importância da conquista desses espaços. Ruth Venceremos é Drag Queen ativista das causas socais, integrante do coletivo Distrito Drag e produtora cultural.
Dia 12/02: Workshop Titanomorfia – Encontro de reconhecimento, identificação, ampliação e multiplicação de seres, poderes e estados na cena.
Espaço para reconhecimento das nossas potências artísticas e o reconhecimento dos nossos pontos vulneráveis como potência. Ministrado por Ana Flávia Garcia, artista cênica criadora em palhaçaria, atuação, direção, encenação, dramaturgia e produção. Militante em arte-educação, pesquisadora e desenvolvedora de projetos e metodologias na tríade arte/política/filosofia com olhos feministas.
O Hollywood Drag Show é organizado pelo coletivo CabaréDRAG, coordenado por Cassandra Morgan; Hellen Quinn; Meduzaa; Gaia–Vila Nova; Tonhão Nunes; Licorina; Larissa Hollywood; e K Halla.
Serviço:
II Hollywood Drag Show
Bate-papos, Workshops, Mostra competitiva, Shows e Premiação
De 6 a 27 de fevereiro de 2021
Encerramento transmitido pelo YouTube, Workshops, para as participantes, via aplicativo, e bate-papos, abertos a todes, em @cabaredrag
Informações: @cabaredrag ou dragracehollywood@gmail.com
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